Beijo

Postado por Hamilton Lima | em | sábado, fevereiro 27, 2010

Beijo (20100) - acrílica sobre paplão - (20x27)




... Perto da minha a boca se entreabre lenta, umidade, cigarro, chiclete, conhaque, vermelha, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo. Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos. ...

Caio Fernando Abreu - Anotações Sobre um Amor Urbano

Alex

Postado por Hamilton Lima | em | sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Alex (2010) - acrilica sobre canson - (21x29,07)




Rebolation na gôndola

A Babilônia estava reerguida. Podia-se dizer também que Salvador era naqueles dias, uma espécie de "maquete plana da Torre de Babel", um lugar de existência comprovada pela arqueologia musical de Caymmi, onde todas as línguas possíveis se entrelaçam empiricamente em todos os sentidos e interpretações, numa espécie de tacho fervilhante sob um sol cúmplice de quase 40º, e assim, observadores e cronistas, eu e um prezado amigo, nos divertíamos muito vendo ou revendo filmes, numa sessão momêsca de eruditismo, entre caudalosos goles de vinho e cerveja.

Obeservávamos os transeuntes. Sim, os transeuntes, os verdadeiros e legítimos protagonistas e donos da festa, os foliões, a galera do carnaval. Eles subiam e desciam o percurso do verão, exibindo provocativos corpos e cores, anatomias úmidas de desejo que ilustravam toda a ladeira, rumo à festa ou retornando dela, enquanto na sala, a tela congelava o rosto existencial de Liv Ulman ou Dirk Bogarde...  Cada um usufrui da lascívia ante- quaresma como deseja. Ou pode. No nosso caso, nós nos permitimos o deleite de ficarmos imunes ao contagioso axé music, e mesmo sendo genuínos representantes da adjetiva baianidade que tanto Caymmi ou Bel Marques são arautos, apreciar essa gente na distância segura do som dos tios elétricos, é um inequívoco biscoito fino.

E assim, quando o álcool e seus complementos (como o delírio que a Unidos da Tijuca nos provocou), e também alucinados (com as investidas surtadas dos primeiros filmes de Sérgio Biacchi) nos levantávamos para respirar o oxigênio quente e cansado daquelas noites, desejávamos (e confesso às escuras que ainda desejo), que numa magnífica possessão-obssessão-encosto-carga pesada, poderíamos receber em nossos "vasos mediúnicos" - sim, porque médiuns de tal quilate não tem corpos ou são "cavalos", são vasos mediúnicos, tá? - a nossa diva rodrigueana Madame Clessi, que tão sabiamante e a anos-luz da perversão pedófila, deu a máxima que é inegável e incontestável. Desnecessário ventilá-la.

Tomados pela verve idômita e aristocrática da personagem, como "valquírias do dendê", desceríamos a Rua Almirante Barroso recolhendo aqueles corpos untados de oportunidades e rijos, e os levaríamos para o nosso Valhala, onde em vez de lhes acalentar, na verdade, como vampiras de baianidade nagô, sugaríamos os restos das forças dessas graças, num banquete digo de duas vestais bacantes.

Levantamos na verdade essa tese, e concluímos com o peso da experiência, que Madame Clessi está mais do que coberta de razão: Madame Clessi somos todos que nutrimos o paladar apurado para a beleza em toda sua plenitude e traiçoeiras nuançes; como Dirk Bogarde, entendemos que a beleza é terrivelmente desgraçada e a juventude o seu veneno e tempero; enquanto a metrópole se rendia acéfala ao "Rebolation", Tadzos aquarelavam a madrugada, subindo a ladeira... e concluímos nosso raciocínio assim: Madame Clessi é a rainha dos carnavais.

Fernando Faria

Natasha

Postado por Hamilton Lima | em | sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Natasha (2010) -  acrílica sobre canson - (21x29,07)





Encandescente

Era puta.

Não puta fina. Puta.

Vestia roupas simples. Não usava adereços. Só pintura.

Pintava-se de forma exagerada para anunciar o que fazia.

Fazia da cara cartaz. Anúncio.

Quem olhava a cara pensava: É puta.

Quem olhasse só o corpo, nu de cor, coberto, envergonhado, não dizia da profissão.

Olhavam só a cara cartaz.

Esperava a noite sentada no escuro.

Todas as noites, à mesma hora, vestia uma roupa simples e saía.

Todas as noites, à mesma hora, parava na mesma rua, no mesmo local.

Ficava imóvel debaixo de um candeeiro que lhe iluminava o rosto pintado com cores de puta e lhe tapava o corpo envergonhado e nu de cores.

Quando abordada não sorria.

Escondia a voz com o mesmo pudor com que escondia o corpo.

Dizia o preço mecanicamente.

Levava o cliente para o mesmo quarto barato de sempre, onde como sempre, mecanicamente, lhe tomavam o corpo previamente pago.

No final de cada acto mecânico, rotineiro, esperava.

Olhava os clientes que abotoavam as calças sem a olhar.

O orgasmo pago. O esperma despejado num corpo pago para o receber.

Saíam com o mesmo alivio de quem sai da casa de banho sem olhar o local onde urinou.

Levantava-se.

Vestia as roupas simples sem olhar o corpo envergonhado.

Refazia a pintura carregando nas cores.

Voltava ao mesmo local. Á mesma luz.

Era puta.

Só puta.


Márcia Denser

Luan

Postado por Hamilton Lima | em | segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Luan (2010) - acrílica sobre papel para aquarela - (18.05x26)


"O desejo é uma traição.
Deixa, à vista de todos, os sentimentos mais íntimos. O olhar é um punhal que cega quem testemunha o retrato da paixão".
Nélida Piñon

Pierrot

Postado por Hamilton Lima | em | quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Pierrot (2010) - acrílica sobre canson - (21x29.07)




“Acredito no que sou capaz:
 em chorar quando é preciso; em rir quando quero.”

Noel Coward

A Máscara de Ferro

Postado por Hamilton Lima | em | quarta-feira, fevereiro 17, 2010

A Máscara de Ferro (2010) - acrílica sobre papel para aquarela - (18.05x26)





Marcha de Quarta-Feira de Cinzas

Acabou nosso carnaval
Nínguem ouve cantar canções
Nínguem passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dansando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz


Vinícius de Moraes / Carlos Lyra






Claudionor

Postado por Hamilton Lima | em | sábado, fevereiro 13, 2010

Claudionor (2010) - acrílica sobre canson - (21x29.07)



JÁ É CARNAVAL, CIDADE!
APROVEITE O EMBALO E FAÇA DESTE CARNAVAL SÓ ALEGRIA!
CURTA BASTANTE... COM SEGURANÇA... OU COM UM SEGURANÇA!

Fetixe

Postado por Hamilton Lima | em | segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Fetixe (2010) - acrílica sobre canson - (21x29.07)


Por favor meu amo

Por favor meu amo deixa eu tocar seu rosto
Por favor meu amo deixa eu me ajoelhar a teus pés
Por favor meu amo deixa eu baixar tuas calças azuis
Por favor meu amo deixa eu contemplar teu ventre de dourados pêlos
Por favor meu amo deixa eu tirar tua cueca devagarinho
Por favor meu amo deixa eu desnudar tuas coxas para meus olhos
Por favor meu amo deixa eu tirar minha roupa sob tua cadeira
Por favor meu amo deixa eu beijar teus tornozelos tua alma
Por favor meu amo deixa eu colar meus lábios na tua coxa dura lisa musculosa
Por favor meu amo deixa eu  grudar o ouvido no teu estõmago
Por favor meu amo deixa eu abraçar tua bunda branca
Por favor meu amo deixa eu lambe tua virilha de pêlos louros e macios
Por favor meu amo deixa eu tocar com a língua teu cu rosado
Por favor meu amo deixa eu esfregar o rosto nos teus colhões
Por favor meu amo, por favor olha nos meus olhos,
Por favor meu amo manda eu deitar no chão,
Por favor meu amo manda eu lamber tua pica grossa
Por favor meu amo pôe tuas mãos ásperas no meu crânio careca cabeludo
Por favor meu amo aperta aperta minha boca contra o coração do teu pau
Por favor meu amo aperta meu rosto contra contra teu ventre, me puxa lentamente com teus polegares fortes
Até tua dureza muda chegar até minha garganta
Até eu engolir & e sentir o gosto de teu pau-tronco cheio de veias carne quente delicada por favor
Meu amo empurra meus ombros me olha bem nos olhos & me faz debruçar sobre a mesa
Por favor meu amo agarra minhas coxas e levanta minha bunda até tua cintura
Por favor meu amo tua mão áspera no meu pescoço palmo da outra mão na minha bunda
Por favor meu amo me levanta, meus pés apoiados em cadeiras, até meu cu sentir o hálito do teu cuspe e teu polegar girando
Por favor meu amo manda eu dizer Por Favor Meu Amo me Fode agora Por Favor
Meu amo lubrifica meus colhões e bocapeluda com doces vaselinas
Por favor meu amo unta teu caralho com cremes brancos
Por favor meu amo encosta a ponta do teu pau nas pregas do buraco do meu cu
Por favor meu amo enfia devagar, teus cotovelos envolvendo meu peito
Teus braços alisando meu ventre, teus dedos tocam meu pênis
Por favor meu amo mete em mim um pouco, mais um pouco, mais um pouco,
Por favor meu amo enfia esse teu tronco no meu cu bem fundo
& por favor meu amo me faz rebolar pra entrar a pica-tronco até o fim
até minhas nádegas aninhar em tuas coxas, minhas costas arqueadas,
até eu ficar só solto no ar, tua espada enfiada latejando dentro de mim
por favor meu amo tira um pouco e lentamente esfrega em mim
por favor meu amo enterra fundo outra vez, e tira pra fora ate a cabeça
por favor por favor meu amo me fode outra vez com o teu ser, me fode Por Favor
Meu amo enfia até machucar o macio o
Macio por favor meu amo faz amor com meu cu, dá corpo ao centro, & me fode direitinho como uma garota,
Me abraça com carinho por favor meu amo eu me entrego a vós & enterra no meu ventre o mesmo doce lenho quente
Que dedilhaste em tua solidão em Denver ou no Brooklyn ou fodeste num estacionamento em Paris
Por favor meu amo entra em mim com teu veículo, corpo de gotas de amor, suor de foda
Corpo de ternura. Me fode assim de quatro mais rápido
Por favor meu amo me faz gemer sobre essa mesa
Gemer Ó meu amo por favor me fode assim
Nesse teu rítmo de roça-enfia & tira-e-roça & enterra até o fim
Até meu cu ficar mole cachorro sobre a mesa ganindo de terror prazer de ser amado
Por favor meu amo me chama de cachorro, arrombado, me esculhamba,
& fode mais violento, meus olhos escondidos por tuas mãos que agarram meu crânio
e enterra fundo com força brutal arrebentando a macieza úmida de peixe
& pulsa cinco segundos esguichando sêmen quente
& mais & mais, enfiando fundo enquanto grito teu nome ah eu te amo
por favor meu Amo

Allen Ginsberg - A queda da América (maio de 1968)

Máscara Dourada

Postado por Hamilton Lima | em | domingo, fevereiro 07, 2010

Máscara Dourada (2010) - acrílica sobre canson - (21x29.07)

Máscara

Máscara, máscara

Máscara que cobrindo o meu rosto

Revelaste o coração

Me dando razão e gosto pra avançar na contramão

Máscara foi com teus olhos vazios

Que logo louco me perdi de amor e arrepios.

Máscara cobro os meus olhos de volta

De quebra a minha incerteza e a voz tremida mas clara

Desmascarada declara

Que os mistérios do amor

Têm de ser sempre vividos

Corpo a corpo, cara a cara

Máscara, máscara...

Francis Hime / Ruy Guerra

Estudo para Máscara Dourada

Postado por Hamilton Lima | em | domingo, fevereiro 07, 2010

Estudo para Máscara Dourada (2010) - grafite sobre papel

Melancolia

Postado por Hamilton Lima | em | segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Melancolia (2010) - acrílica sobre tela - (20x30)

"Estava lá Aquiles, que abraçava

Enfim Heitor, secreto personagem

Do sonho que na tenda o torturava;

Estava lá Saul, tendo por pagem

Davi, que ao som da cítara cantava;

E estavam lá seteiros que pensavam

Sebastião e as chagas que o mataram.

Nesse jardim, quantos as mãos deixavam

levar aos lábios que os atraiçoaram!

Era a cidade exata, aberta, clara:

Estava lá o arcanjo incendiado

Sentado aos pés de quem desafiara;

E estava lá um deus crucificado

Beijando uma vez mais o enforcado."

Mario Faustino - O Homem e Sua Hora

De "Sete Sonetos de Amor e Morte"