Marron no Chuveiro

Postado por Hamilton Lima | em | sexta-feira, outubro 23, 2009

Marron no Chuveiro (2007) - acrílica sobre tela - (18x24)


Toda Nudez Será Castigada
A Nelson Rodrigues

Se morro ressuscita-me no asfalto
o beijo úmido do estranho, proibido
na boca dentes de ouro e perfil escrachado
de ladrão boliviano sedutor e pederasta.

O Rio boêmio foi cenário de minha ardência
com bonitinhos e ordinários em tristes hospedarias.
E lá como aqui, ontem como hoje ou amanhã
toda nudez será castigada e a inversão, estigma.


Mas prossigo... e vivo a marginalidade
como território de conquista, brasão
gotas de esperma perlando-me a fronte, a calva
minha grinalda de noiva em coma e delírio.

Paulo Azevedo Chaves

Chicão

Postado por Hamilton Lima | em | segunda-feira, outubro 19, 2009

Chicão (2009) - acrílica sobre canson - (21x29.07)
"A bordo todos o estimavam como na fortaleza, e a primeira vez que o viram, nu, uma bela manhã, depois da baldeação, refestelando-se num banho salgado — foi um clamor! Não havia osso naquele corpo de gigante: o peito largo e rijo, os braços, o ventre, os quadris, as pernas, formavam um conjunto respeitável de músculos, dando uma idéia de força física sobre-humana, dominando a maruja, que sorria boquiaberta diante do negro."
Adolfo Caminha - Bom-Crioulo

Dolores

Postado por Hamilton Lima | em | sábado, outubro 17, 2009

Dolores (2009) - acrílica sobre canson - (21x29.07)
"Deitamos ouvindo Roberto Carlos, a voz dos motéis, “por que me arrasto a seus pés?”. Porque sexo é isso mesmo. Essa gana de rastejar com Roberto, no coito dos motéis. Ele diz: esse motel já foi bom, e eu olho o banheiro, caixa amplificadora de fibroplast, as toalhas embaladas em sacos plásticos, os lençóis castanhos com ramagens duvidosas entre encardido e vestígios de cor, os três espelhos redondos, montados em curvim (um em frente ao outro, no meio a cama, o terceiro no teto, sobre a cama), claro que para transformar-nos numa espécie de confuso coquetel de siris assados: pernas, braços, carnes vivas, canteiro de patas, antenas, pêlos moventes, espiando de esguelha uma outra hidra em perspectiva no espelho da frente, de trás, de cima, de baixo, devassados, misturados, confundidos, a 850,00 a diária, porque (e então eu sei porque) todos os motéis é sempre o mesmo motel, o animal mitológico, a quimera que se arrasta interminávelmente na madrugada ao som de Roberto Carlos. ..."
Márcia Denser - O animal dos motéis

Garra

Postado por Hamilton Lima | em | quarta-feira, outubro 14, 2009

Garra (2007) - técnica mista sobre eucatex - (45x65)
Preço de um Corpo XIX

Quando algum corpo maravilhoso,
Como o teu, nos arrasta
Atrás de si, ele mesmo não compreende,
Somente o amor e o amante o sabem.
(Amor, terror da solidão humana.)
Esta humilhante servidão,
Necessidade de consumir a ternura
Num ser que assenhoramos
Com nosso pensamento
Vivo de nossa vida.
Ele dá o motivo,
Tu o destes; porque tu existes
Como sombra externa de algo,
Uma sombra perfeita
Daquele afã, que é do amante, meu.

Se eu te falasse
Como o amor depara
Sua loucura e sua razão ao viver,
Tu não compreenderias.
Por isso não digo nada.
A beleza, inconsciente
De sua própria cilada, pega a presa,
Prossegue.
Assim, por cada instante
De gozo, o preço está pago:
Este inferno de angústia e desejo.
Luis Cernuda - “Poemas para um cuerpo” - Tradução Augusto Massi

“Each men kills the things he loves.”

Postado por Hamilton Lima | em | terça-feira, outubro 06, 2009


“Each men kills the things he loves.” (1998) - acrílica sobre palelão - (22x27.5)
... “Não era uma pessoa monogâmica, pensava comigo. Sentia-me atraído demais pelo mistério dos primeiros encontros, inebriado demais pelo teatro da sedução, ávido demais pela emoção de novos corpos, e não seria confiável a longo prazo. Seja como for, era a lógica que aplicava em mim mesmo e funcionou como uma cortina de fumaça eficaz entre minha cabeça e meu coração, entre minha virilha e meu cérebro. Pois a verdade é que não tinha a menor noção do que fazia. Estava descontrolado e trepava pela mesma razão pela qual outros bebem: para afogar minhas mágoas, amortecer meus sentidos, esquecer-me de mim. Tornara-me um homoerectus, um falo selvagem e desgovernado. Não demorou para que me enredasse em vários casos de uma vez, equilibrando namoradas como um acrobata demente, mudando de uma cama para outra como a lua troca de fases. Na medida em que me entretinha, creio que esse frenesi foi um bom remédio. Mas era a vida de um louco e provavelmente me mataria se a levasse por mais tempo.”...
Paul Auster - Leviatã

Baiano

Postado por Hamilton Lima | em | sexta-feira, outubro 02, 2009

Baiano (2007) - acrílica sobre tela - (20x30)
"...
Quais são os seus doces objetos?......................Pretos
Tem outros bens mais maciços?..................................Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos? ........................Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
..."
Gregório de Mattos e Guerra