Boy

Postado por Hamilton Lima | em | sexta-feira, novembro 20, 2009

Boy (1998) - acrílica sobre palelão - (22x27.5)
Quero Ele

Quero ele, mas quero muito
Ouço no meu gravador murmúrios dele
Procuro ele no mar, por todo o navio
Quero ele, menino triste
Quero ele por trás dele
Por cima da mesa
Quero Querelle, quero querê-las
Quero tê-las, seus bagos, suas orelhas
Quero ele brocha, quero ele rocha
Quero ele com seus pentelhos
E seu doce sorriso nas sobrancelhas
A brisa de espada
Quero arrumar sua mala
E cuidar dele quando estiver doente
A gente sente coisas estranhas
Dores, horrores nas entranhas
Mãe, pai, aonde estou nessa noite devagar
Querelle não, Querelle corre
Querelle pode e deve mentir
Quero Querelle e seu irmão
(Quero Rogéria e seu pauzão)
Quero em Brest, todos os santos
Quero as fadas e os gigantes

Quero escovar seus dentes, passar colônia
Contar histórias pra sua insônia
Quero curar seu mal de sexo
Quero sem nexo, sem camisinha
Cazuza / Lobão

Sauna: "As Três Graças"

Postado por Hamilton Lima | em | quinta-feira, novembro 19, 2009

Sauna: "As Três Graças" (2009) - acrílica sobre canson - (21x29.07)

... “Um dos garotos de programa, mudo, mostrou o pau descomunal. Outro, moreno e bonito, sorriu, anunciando cobrar um cachê de vinte reais para ser ativo, passivo e até beijar na boca. A essência de eucalipto recordou-me velhos tempos. Um cinqüentão, bêbado, cantava uma melodia de Maysa. O seu olhar evidenciava estar familiarizado com todo tipo de infernos.” ...


Antonio Naud Júnior- A mecânica gay e o excesso


Theo

Postado por Hamilton Lima | em | quinta-feira, novembro 12, 2009

Theo (2008) - acrílica sobre tela - (16x22)


O Negociante – Durante a noite não há vergonha em esquecer aquilo de que se lembrará pela manhã; a noite é o momento do esquecimento, da confusão, do desejo tão quente, que se transforma em vapor. Contudo, a amanhã acumula o vapor como uma grossa nuvem sobre a cama; e, à noite, seria um tolice não prever a chuva da manhã. Se, por hipótese, você me disser que é, por um momento, desprovido de qualquer desejo, por fadiga ou esquecimento ou por excesso de desejo que leva ao esquecimento, por suposição, eu diria para você não se cansar mais e tomar emprestado o desejo de alguém. Um desejo se rouba, mas não se inventa, ora, o casaco de um homem se mantém aquecido quando vestido por outro, e um desejo se empresta mais facilmente do que uma roupa. (...)
Bernard-Marie Koltès - Na Solidão dos Campos de Algodão - Tradução: Gideon Rosa

Deny

Postado por Hamilton Lima | em | quarta-feira, novembro 11, 2009

Deny (2009) - grafite sobre canson - (21x29.07)

“Queer é tudo isso: estranho, raro, esquisito. Queer é, também, o sujeito da sexualidade desviante – homossexuais, bissexuais, transsexuais, travestis, drags. É o excêntrico que não deseja ser “integrado” e muito menos “tolerado”. Queer é um jeito de pensar e de ser que não aspira o centro nem o quer como referência; um jeito de pensar e ser que desafia as normas regulatórias da sociedade, que assume o desconforto da ambigüidade, do “entre lugares”, do indecidível. Queer é um corpo estranho, que incomoda, perturba, provoca e fascina”

Guacira Lopes Louro - Um corpo estranho (2004)

Na Noite Alta...

Postado por Hamilton Lima | em | segunda-feira, novembro 09, 2009

Na Noite Alta... (2008) - acrílica sobre tela - (20x30)
Os anjos de Sodoma

Eu vi os anjos de Sodoma escalando
um monte até o céu
E suas asas destruídas pelo fogo
abanavam o ar da tarde
Eu vi os anjos de Sodoma semeando
prodígios para a criação não
perder o ritmo de harpas
Eu vi os anjos de Sodoma lambendo
as feridas dos que morreram sem
alarde, dos suplicantes, dos suicidas
e dos jovens mortos
Eu vi os anjos de Sodoma crescendo
com o fogo e de suas bocas saltavam
medusas cegas
Eu vi os anjos de Sodoma desgrenhados e
violentos aniquilando os mercadores,
roubando o sono das virgens,
criando palavras turbulentas
Eu vi os anjos de Sodoma inventando a
loucura e o arrependimento de Deus

Roberto Piva - Paranóia (1963)


Cristiano

Postado por Hamilton Lima | em | segunda-feira, novembro 02, 2009

Cristiano (2009) - grafite sobre canson - (21x29.07)

ARQUITETO - Sabe como é que eu imagino a felicidade? Acho que, quando a gente é feliz, a gente está junto de alguém que tem a pele muito fina e depois a beijamos nos lábios e tudo se encobre de uma névoa rósea e o corpo da pessoa se transforma numa multidão de espelhinhos e quando olhamos para ela somos refletidos milhões de vezes, e passeamos com ela montados nas zebras e nas panteras em volta de um lago e ela nos puxa por uma corda e quando olhamos para ela chovem penas de pombos, que, caindo no chão, relincham como potros jovens e entramos depois num quarto e começamos a passear de mãos dadas pelo teto... (fala precipitadamente) ... e as cabeças se cobrem de serpentes que nos acariciam, e as serpentes se cobrem de ouriços que nos fazem cócegas e os ouriços se cobrem de ouro, cheios de presentes, e escaravelhos de ouro...

Fernando Arrabal - O Arquiteto e o Imperador da Assíria (trad. de Leila Ribeiro e Ivan Albuquerque)